Prostituição do Mercado
É
sabido que a qualidade e o profissionalismo na prestação
de serviços no Brasil ainda tem muito o que melhorar.
No mercado de
informática, isso fica patente. E o problema é que muitos técnicos só
contribuem para que esse mercado fique cada vez pior.
Entenda.
Quando eu comecei a trabalhar com manutenção de
computadores, na década de 1980, a realidade do mercado era completamente
diferente.
Para
trabalhar nessa área, o técnico precisava necessariamente ser um técnico em
eletrônica, pois
a manutenção envolvia a troca de componentes eletrônicos. O técnico precisava
investir e reinvestir
em educação, como estudar inglês (para poder ler documentos técnicos, livros e manuais),
para manter-se atualizado. O técnico preocupava-se em desenvolver uma carreira
profissional.
Ele entendia que não poderia cobrar pouco, pois havia o gasto de sua educação e de
manter-se atualizado.
Porém,
à medida que a manutenção de peças passou a não necessitar mais de
conhecimentos muito
aprofundados de eletrônica (a placa-mãe queimou, é só trocá-la) e com o surgimento
da Internet,
surgiu um novo tipo de “profissional” no mercado: o curioso que acha que é
técnico.
O
problema deste tipo de camarada é que ele destrói o mercado colocando os
famosos anúncios do
tipo “conserto computador, tiro vírus, troco lâmpada, calibro o pneu e ainda
levo o seu cachorro
para passear por apenas R$ 10”. E só resta aos técnicos “de verdade”, aqueles
que estudam
e cuja prioridade número um é o profissionalismo, arrancar os cabelos.
A
mentalidade desses técnicos que cobram muito baixo é que eles precisam ganhar
clientes e, como
há uma concorrência muito grande, precisam cobrar menos que os concorrentes. Só
que isso
tende a disparar uma queda de preços que prejudica todos os técnicos, inclusive
eles mesmos,
no futuro. Afinal, quando eles se tocam que o valor cobrado mal paga a passagem
para
ir
ao cliente, já é tarde demais: o mercado já está totalmente prostituído e não
há como voltar atrás.
Nós
sempre achamos esse tipo de mentalidade completamente equivocada. É verdade que
há cada
vez mais técnicos no mercado. No entanto, também é verdade que há cada vez mais computadores
no mercado e, consequentemente, há cada vez mais demanda por técnicos.
Por
motivos culturais e educacionais, falta a mentalidade do corporativismo na
profissão. O que isso
quer dizer: vamos proteger o mercado para que ele fique bom para todos. Em vez
de tentar ferrar
os colegas jogando seus preços lá para baixo, que tal deixar os valores em
níveis justos, para
que todos ganhem? Se você é técnico “de verdade”, sabe bem o que queremos
dizer.
Quantas
vezes você já escutou algo como “R$ 100 para consertar esta besteirinha? Mas
tem o amigo
do primo do cunhado do filho do padeiro que disse que faria por R$ 25!”.
Com
preços lá embaixo, o prestígio da profissão foi para o ralo. Cansamos de ver
gente reclamando
do preço cobrado por técnicos em manutenção de computadores, mas que não hesitam
em pagar mais para um semianalfabeto que se diz eletricista consertar algo em
casa. Como
o conserto de computadores hoje em dia é algo que não exige trabalho físico,
como
quebrar
uma parede, muitos clientes acham que é um trabalho mais “fácil”.
É
nosso papel educar o mercado. Explicar aos clientes que consertar um computador
parece “fácil”,
mas requer estudo e custo com educação (mesmo que não seja educação formal
dentro de
sala de aula, você gasta com livros, revistas e também o seu tempo lendo
artigos e participando
de fóruns na Internet; não se esqueça de que tempo é dinheiro). É
como a história da máquina de fazer cadernos. Um empresário tinha uma máquina
de fazer
cadernos.
Bastava alimentar a máquina com papel, apertar um botão e cadernos prontos
saíam do
outro lado. Aí um dia a máquina quebrou e o empresário chamou o técnico. O
técnico foi lá, apertou
o botão, colocou o ouvido na máquina, abriu um estojo que levou consigo, tirou
um
martelinho,
bateu com o martelinho na máquina e pronto! A máquina estava funcionando novamente.
O técnico cobra então R$ 1.000. O empresário grita “Mil reais por uma
martelada? Que
absurdo!”. Ao que o técnico responde: “Não. A martelada custou apenas um real.
Eu cobrei
R$
999 para saber qual martelo usar, onde martelar e em que ângulo!”.
A
única solução possível é a sensibilização dos técnicos, objetivo que
pretendemos ao menos colocar
em discussão com este editorial. Sabemos que não será possível mudar o cenário
do mercado
brasileiro por completo, mas esperamos ter ajudado com a nossa opinião.
Gabriel
Torres
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